I. Soberania
e Resistência na Heartland: Latitude
30° Norte (do mar Morto ao Everest).
Se a
geografia acabou por se tornar “um saber estratégico estreitamente ligado a um
conjunto de práticas políticas e militares e são tais práticas que exigem o
conjunto articulado de informações etremamente variadas (...). São tais
práticas estratégicas que fazem com que a geografia se torne necessária, ao
Chefe Supremo, àqueles que são os donos dos aparelhos do Estado”[1], por
enquanto essa talvez seja uma questão que se manterá suspensa, no entanto,
questiona-se: o que foi capaz de provocar, desde o início do século, de que a
conquista do leste europeu e do Oriente Próximo seriam capazes de dominar a Heartland? Do mesmo modo, isto quer
dizer que dominar a Heartland era o
mesmo que dominar o mundo? Primeiramente, o que significa Heartland? Trata-se de uma hipótese geoestratégica proposta pelo Império
Britânico que, mantendo-se no poder global, elaborou a do ‘poder terrestre’ por
Halford Mackinder[2].
Para ele, o mundo se dividia em duas unidades: [1] no caso específico, a
Eurasia, além de suas ‘regiões costureiras’ (ou ‘crescente marginal interno’)
aglomerando as terras que circulam essa ‘Ilha Mundial’, constituindo-se nessa Heartland; [2] As áreas ‘marítimas’
(América, África ao sul do Saara, Austrália, Grã-Bretanha e Japão)
corresponderiam ao ‘crescente externo ou insular’[3]. Posição
estratégica que se estende do Himalaia ao ártico – de sul a norte – e do Volga
ao Yang-Tzé – de leste a oeste.
Se o
poder, neste sentido, repousaria na Heartland,
então o que aconteceu com essa Ilha Mundial se trata exatamente do território
da Rússia e da China? A que se propõe se refere, pois não a Heartland diretamente, mas a suas
‘regiões costeiras’ ou linha da ‘crescente marginal interna’, mais exatamente
na latitude 30° norte, que se estende do mar Morto (entre Jerusalém e Jordânia)
a uma distância de um pouco mais de 50.000 km até uma altitude superior a 8 000
m de altitude no Everest, nas cordilheiras do Himalaia (na fronteiras entre o
Nepal e o Tibete, a oeste da China).
Descreve-se
a ‘crescente marginal interna’, da seguinte forma, região costeira da Heartland precisamente na latitude 30°
Norte, conectando nas extremidades entre dois pontos assimétricos, o ponto mais
profundo do planeta com o mais elevado da superfície terrestre: o mar Morto e o
Everest. De oeste a leste – ‘ambiente essencialmente desértico’:
a)
Região litorânea/costeira: Jerusalém –
Jordânia;
b)
O planalto iraniano;
c)
Região montanha do Afeganistão e Paquistão;
d)
Cordilheira Tibetana.
Conflito Nuclear
O conflito
nuclear que assombra as relações diplomáticas mundiais, atualmente polarizadas
entre o Irã e os EUA, rememora os conflitos da guerra fria. Após a II Guerra
Mundial, URSS e EUA travaram uma tensão que durou praticamente meio século. Da hipótese de Mackinder até a década 1960 foi
o suficiente para que entre os Estados da Ilha Mundial (URSS e China) criasse
uma bipolarização com o mundo ocidental centrado basicamente na ‘corrida
armamentista’, que tinha na energia nuclear o seu ponto mais forte. A eclosão
de um ‘conflito nuclear’[4] em
meado do século tornou-se tão possível, que os norte-americanos elaboraram
planos para um primeiro ataque nuclear contra os soviéticos em confrontos
militares diretos que poderiam se situar em qualquer parte do planeta, tal como
em ‘conflitos locais’ como os que passaram ocorrer no Oriente Médio, com mais
frequência.
Desse
período até a queda do muro de Berlim, o problema nuclear parece apenas ter
mudado de mãos, deixando de ser um problema exclusivamente rumo, para tornar-se
um dilema islâmico; essencialmente iraniana. Na medida em que os conflitos
mundiais passaram de um âmbito político (focalizado no ‘inimigo comunista’)
para uma dimensão mais ‘cultura e religiosa’ (ligada ao ‘fundamentalismo’
islâmico), de meado do século passado até o início do atual, a questão nuclear
parece ter apenas mudado de mãos e de territórios, dos comunistas aos
islâmicos, da URSS para o Irã.
Hegemonia Global
O século
XXI inicia com o atentado das torres gêmeas, sob uma espécie de ‘marco’
político que não só opõe os EUA (o mundo ocidental) em relação oposta ao ‘Islã’
como encontrar o motivo ou o estímulo para ocupar tanto o Iraque (a oeste do
Irã) como o Afeganistão (a oeste do Irã), dadas as suspeitas de bombas de
destruição em massa no Iraque e dos rumores sobre sua suposta relação com a
rede terrorista afegã al-Qaeda (suspeita de conduzir os desastres de 11
setembro de 2011).
Se a
primeira metade da década de 2010 foi marcada pela captura e execução de Sadam
Husseim e, com efeito, da ‘implantação’ da democracia no Iraque, a segunda
metade finalizar com a captura de Baradar, o número 2 do grupo afegão Talibã.
Nesta
região costeira (Heartland), para os americanos
alcançarem mais 50 anos de hegemonia global aproximadamente, a condenação de
Sadam Husseim serviria apenas como um meio de passar do Iraque ao Irã, o que
não tem sido nada fácil desde o fim da década de 1970, com a Revolução Iraniana
motivado por aiatolá Khomeini, além da intensificação do processo de
enriquecimento de urânio em suas usinas nucleares, que chegam atualmente a
índices preocupantes para a ‘segurança mundial’. A ‘hegemonia americana’[5]
depende, para a sua estratégia do controle das bacias de petróleo do Oriente
Médio (entre tantos recursos naturais da região) não só do controle das iraquianas
e das afegãs, mas de manter em curso o armamento dos sauditas e, assim, impor
presenças militares na Ásia central suficientes para que se possa dominar a
bacia do mar Cáspio, com tal sorte, alcançaria a região norte do Irã. Desta
configuração regional de poder resta que as fronteiras iraquianas estão tomadas
por tropas norte-americanas, ou seja, há ‘falcões a leste (no Afeganistão e no
Paquistão) e a oeste (no Iraque), no entanto, o Irã acelera o seu armamento
nuclear, alterando a hegemonia dos Estados Unidos no golfo Pérsico.
II. Dispositivos de Segurança
Acontece
entre janeiro e fevereiro de 2010, alguns fatos ocorreram ao longo dessa
latitude 30° Norte, de Israel ao Tibete, evidentemente passando pelo Irã,
trata-se de verdadeiros ‘atos de guerra’: sucessivos, que envolveram um ‘campo
de forças’ através de dois ‘dispositivos de segurança’: [1] diplomático e [2]
policial-militar[6].
Através desses ‘atos de guerra’ que sucederam nos primeiros meses de 2010, por
meio dessas ações e relações de poder, algum tipo de exame pode-se fazer acerca
do desenvolvimento desse ‘sistema de segurança’ tendo por base esses dois tipos
fundamentais de técnicas para a ampliação das forças do Estado (Diplomático e o
policial-militar). De certo, esse duplo ‘mecanismo de segurança’remontam ao
século XVII, aos acordos de Vestfália e o equilíbrio da força entre as nações
européias[7],
que resultou com a limitação de fora do estado mais forte, a equalização dos
mais fortes e a combinação entre os mais fracos e os fortes o quanto possível.
Deste modo, o desenvolvimento desses mecanismos de segurança como meio de
ampliação das forças do Estado derivam desse período, a partir do século
XVI-XVII, quando era possível pensar a paz proveniente de uma pluralidade de
Estados em oposição à umidade da Igreja, desde a Idade Média. Resta que três
instrumentos dessa ‘paz universal’, ainda precária, podem ser destacados: [1] a
guerra de Estado; [2] o diplomático; [3] o dispositivo militar permanente.
[1] a
política entre as noções substitui o princípio do direito que norteava as
guerras medievais, ‘a política é a continuação da guerra por outros’ e
principalmente a inversão deste aforismo de Clausewitz tornam-se o paradigma da
‘guerra de Estado’; [2] os instrumentos diplomáticos passam a ser mais usuais,
desde os ‘tratados multicolaterais’, todo o tipo de ‘missões permanentes’ e a
ampliação do fluxo no ‘sistema de informação dos Estados’ tornam-se meios para
instituir pactos, acordos e contratos entre os Estados; [3] trata-se da
organização de um ‘complexo político-militar’ a partir de um corpo de
profissionais de guerra, armados e especializados; de uma estrutura permanente
com tropas recrutadas ocasionalmente em tempo de guerra e a constituição de um
saber (táticas e esquemas de ataque e defesa, tida reflexão sobre a prática
militar).
Os
acontecimentos no Oriente Médio e no sudoeste asiático podem ser examinados
através da dinâmica deste duplo mecanismo de segurança derivado dos acordos de
Vestfália: o diplomático e o militar-policial.
No dia 20
de janeiro de 2010 AL-Mahbouh (membro do Hamas, responsável pelo tráfico de
armas do grupo) foi encontrado morto em Dubai, tendo por principal suspeito
deste crime o Serviço Secreto de Israel, o Mossad, trata-se de um ‘instrumento
policial’ de segurança, assim como instrumento militar norte-americano tornou a
captura de Barabar (o número 2 do Talibã) em Karachi, no Paquistão, por volta
do dia 10 de fevereiro de 2010.
O
dispositivo diplomático não deixou de ser utilizado, mas de modo alternado com
o militar-policial. De um lado, com o vazamento de um relatório da ONU
(Organização das Nações Unidas) sobre o andamento do desenvolvimento do
enriquecimento de urânio a 20% no Irã, divulgado na imprensa no dia 8 de
fevereiro de 2010, o que provocou a intensificação das sanções por parte do
AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) da ONU. De outro lado, o
impacto que a visita de Dalai Lama faz à Casa Branca, no dia 18 de fevereiro de
2010, deixou o Ministério das Relações Exteriores da China a vontade para
protestar publicamente contra Barack Obam. No entanto, o encontro com o líder
budista reforçou na imprensa de todo o mundo as relações de aliança,
aparentemente estáveis e cordiais, entre Tibete e Estados Unidos.
Uma vez
identificada a preexistência destes dois mecanismos de segurança alinhados, em
cada caso (Israel, Irã, Paquistão e Tibete) com uma intensidade e ritmo
distintos, como então calcular ou redimensionar o desempenho das forças nestas
‘linhas de fratura’[8]?
Em outras palavras, a partir destes instrumentos de segurança (diplomáticos e
policial-militares) como ‘motores’ destes sucessivos ‘atos de guerra’[9],
de que maneira pode-se calcular a ampliação das forças dos Estados ou sua
retenção?
III. Cálculo de Forças
Para se
elaborar um ‘cálculo de forças’ trata-se de
reconhecer que o Estado utiliza sistemas de segurança capazes de ampliar
as suas forças, os dispositivos de segurança ‘clássicos’ (sec. XVI-XVII) são:
diplomático e o militar-policial. Se uma ‘estratégia’ é definida pela conquista
de um lugar, de um ‘próprio’[10], mas
principalmente, um ‘recontro’[11] –
dado o caráter espacializante das estratégias, da sua acepção ‘geoestratégica’ –
este caráter não é o bastante para defini-la, porque a melhor ‘estratégia’ está
em ‘ser sempre muito forte’, de tal sorte que a ‘lei geral’ da estratégia
consiste em concentrar forças.
Provavelmente
a estratégia do ‘recontro’ (da atividade de guerra mesmo ou dos combates) para
atingir uma finalidade, isto é, trata-se de fixar um objetivo para os ‘atos de
guerra’ correspondendo-os como finalidade. Trata-se de concentrar forças como
estratégia para mover os ‘atos de guerra’ que devem possuir, em geral, pausas
mais ou menos longas, ou seja, o ‘tempo de repouso e de espera’ deverá ser
maior que o tempo da ação, por isso que, quando o ato de guerra pára é porque
nenhuma das duas partes quer algo de positivo, o que produz certo ‘repouso’ ou
um ‘estado de equilíbrio’. Mas quando um dos campos vier a alcançar um novo
objetivo (positivo), a luta começa a avançar para alcançar tal finalidade,
manifestando uma ‘tensão das forças’[12].
De um lado, ‘estado de repouso’, de outro, ‘estado de tensão’ são as ‘ações
práticas’ que movimentam as tropas nas campanhas, produzindo acontecimentos
como um estado de coisas em maior ou menor tensão a partir de um teatro da guerra[13], de um
bunker, assumindo todas as características de um típico ‘ato de guerra’,
Clausewitz (2003):
O teatro de
guerra. Na realidade, esse termo designa qualquer parte do conjunto da zona de
guerra cujos limites estão protegidos, e que, por esse fato, possui uma certa
independência. Essa proteção pode consistir em fortalezas, em importantes
obstáculos naturais, ou ainda na considerável distância que separa o local do
resto da zona de guerra. (...) os acontecimentos de um só teatro de guerra
(p.341-3)
Um cálculo
de forças considera a estratégia e sua finalidade de alcançar mais forças, mas
através dos impactos que sofre ao longo do tempo, das oscilações entre ‘estados
de equilíbrio’ e ‘estados de tensão’, repouso e velocidade. De que forma um
cálculo de forças pode ser pensando em termos de mecanismos de segurança? Toda
vez que a predominância do ‘sistema diplomático’ ocorrer como um ato de guerra,
certamente está-se diante de um ‘estado de equilíbrio’ ou de repouso.
Assim, o
‘sistema militar e policial’ promoverá um ato de guerra diretamente ligado ao
‘estado de tensão’. Trata-se da máquina estatal e seu mecanismo diplomático sob
um estado de lentidão, ao mesmo tempo, de uma máquina de guerra mobilizando um
estado de tensão, por velocidade e celeridade. Assim, a máquina de guerra se
encarrega pelo fim e pela ordem mundial, enquanto os Estados tornaram-se
objetos ou meios para a propagação da máquina de guerra. Clausewitz sustentou,
ao contrário, o aforismo que diz: “a guerra é a continuação da política por
outros meios”. De fato, Deleuze e Guattari não foram os únicos a inverterem o
aforismo de Carl von Clausewitz, ao demonstrarem o modo pelo qual o Estado passou
a ser o objeto ou meio de propagação da máquina de guerra. Há uma interessante
abordagem sobre a inversão do aforismo de Clausewitz, Michel Foucault se
dedicou ao tema “a política é a continuação da guerra por outros meios”, num
curso intitulado “Em Defesa da Sociedade”, em 1976 no Collège de France.
O cálculo
de forças resultante dos sucessivos atos de guerras no Oriente Próximo (de
janeiro a fevereiro de 2010) parte da relação recíproca que existe entre os
mecanismos de segurança e seus ‘estados’ específicos (repouso e tensão). Então,
o assassinato do líder do Hamas em Dubai; a intensificação das sanções da AIEA
(ONU) sobre o Irã; a captura de Barabar em Karachi pelos Estados Unidos e
represália chinesa sobre os rumores que as ‘conversas’ entre Dalai Lama e
Barack Obama suscitaram: todos esses atos devem ser calculados em relações de
forças que se movimentam entre estados de repouso e de tensão, na medida em que
resultam da ampliação da força derivada de sistemas diplomáticos ou militares
de segurança. Através do cálculo de forças, o que se propõe compreender é a
manifestação da ‘soberania e da resistência’[14]
como a enunciação ou a expressão do movimento das máquinas estatal e de guerra
(em repouso e em tensão), por meio de mecanismos de segurança ativados
(acionados) ao longo da territorialização do teatro da guerra ou dos bunkers que perfilam, um a um, do mar
Morto ao Everest, em parte, no entorno Heartland.
De que
modo os atos de guerra proveniente da instrumentalização dos sistemas de
segurança militar-policiais puderam causar um efeito de soberania? Como os
sistemas diplomáticos de segurança foram capazes de promover um campo de
aplicação, de resistência, entre os Estados do Irã e China? Em que medida as
ações do Mossad e dos falcões (EUA)
acabaram por criar um ‘estado de tensão’ que proliferou em Dubai e em Kurachi?
Até que ponto as sanções da ONU e as queixas do Ministério das relações chinês
resultaram de dois amplos ‘focos de resistência’ que, em ambos os casos,
movem-se em ‘estado de repouso’, de um lado, em relação a político nuclear, de
outro, no que se refere a autonomia tibetana?
[1] “A despeito das aparências cuidadosamente mantidas, de
que os problemas da geografia só dizem respeito aos geógrafos, eles interessam,
em última análise, a todos os cidadãos. (... ) Esse discurso pedagógico que é a
geografia dos professores, que parece tanto mais maçante quanto mais as mass media desvendam seu espetáculo do
mundo, dissimula, aos olhos de todos, o temível instrumento de poderio que é a
geografia para aqueles que detêm o poder. Pois, a geografia serve, em
princípio, para fazer a guerra”. Cf.: LACOSTE, Yves. A Geografia – Isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra.
Campinas: Papirus, 1988, 22-3.
[2] “Quando, por exemplo, a política dos Estados Unidos
com relação ao Iraque criou no começo de 2003 um vínculo de resistência entre a
França, a Alemanha e a Rússia, e até com o apoio da China, tornou-se possível
discernir os fracos contornos de um bloco de poder eurasiano que Halford
Mackinder previra muito tempo atrás que poderia com facilidade dominar
geopoliticamente o mundo”. Cf.: HARVEY, David. O Novo Imperialismo. São Paulo: Loyola, 2004:75.
[3] O poder terrestre (Halford Mackinder) e a Heartland e suas duas unidades: “O poder
repousaria no Heartland, que denominou de pivô geográfica da História, devido à
possibilidade de desenvolvimento autárquico, com base na extensão – do Himalaia
ao Ártico e do Volga ao Yang-Tzé – nos recursos, na grande mobilidade interna
possível na estepe com a ferrovia, e na sua condição de fortaleza natural. Tais
condições lhe atribuíam uma posição estratégica: é inacessível aos homens do
mar, mas a partir dele é possível chegar à costa, ao crescente externo”. Cf.:
BECKER, Bertha K. A Geopolítica na Virada do Milênio: Logística e
Desenvolvimento Sustentável. In: CASTRO, I. E. et alli (orgs). Geografia: Conceitos e Temas. Bertrand
Brasil: Rio de Janeiro, 2003:278-9
[4] A loucura nuclear, conflito nuclear, tecnologia e
guerra nuclear. Cf.: CAPRA, Fritjof. O
Ponto de Mutação. São Paulo: Cultrix, 1993.
[5] O colapso financeiro e a hegemonia americana. Cf.:
HARVEY, David. O Novo Imperialismo.
São Paulo: Loyola, 2004.
[6] Aulas de 11 de janeiro – 18 de janeiro – 25 de janeiro
(1977-1978). O estudo do biopoder – sistema de legal, mecanismos disciplinares
e dispositivos de segurança. Cf.: FOUCAULT, Michel. Segurança, Território, População. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
[7] Para a conservação da Força do estado criaram-se dois
conjuntos (dispositivos militar e
policial) para a manutenção das forças (segurança), Michel Foucault em
“Segurança, Território, População” descreveu: “(...) as novas técnicas de tipo
diplomático-militar. (...) Quando os diplomatas, os embaixadores que negociaram
o tratado de Vestefália recebiam instruções do seu governo, recomendavam-lhes
explicitamente que agissem de tal modo que os novos traçados de fronteiras, as
novas divisões dos Estados, as novas relações estabelecidas entre os Estados
alemães e o Império, as zonas de influência da França, da Suécia, da Áustria,
[que] tudo isso [fosse] feito em função de um princípio: manter certo
equilíbrio entre os diferentes Estados da Europa” (p.399).
[8] “As guerras de linha de fratura são marcadas por
freqüentes tréguas, cessar-fogos, armistícios, mas não por tratados abrangentes
de paz que solucionam questões políticas fundamentais. Elas têm essa
característica de pára-e-recomeça porque têm suas raízes em conflitos profundos
de linha fratura, que envolvem relações antagônicas duradouras entre grupos de
civilizações diferentes. Os conflitos, por sua vez, provêm de proximidade
geográfica, religiões e culturas diferentes, estruturas sociais separadas e
recordações históricas das duas sociedades”. HUNTINGTON, Samuel P. O Choque de Civilizações e a Recomposição da
Ordem Mundial. Rio de Janeiro: Objetiva, 1997: 371.
[9] Acerca da suspensão do ato de guerra - “Se se
considerar a guerra como um ato de aniquilamento recíproco, é preciso
necessariamente supor que as duas partes estão em progressão geral; mas, para
cada instante sucessivo, tem de se supor no mesmo momento e também
necessariamente que uma das partes está em expectativa e só a outra em
progressão (...). Com o tempo, produzir-se-á uma alteração, na sequência da
qual o presente instante será mais favorável a um do que a outro”. CLAUSEWITZ,
Carl Von. Da Guerra. São Paulo:
Martins Fontes, 2003:239.
[10] “Chamo de ‘estratégia’ o cálculo das relações de
forças que se torna possível a partir do momento em que um sujeito de querer e
poder é isolável de um ‘ambiente’. Ela postula um lugar capaz de ser
circunscrito por um próprio e portanto capaz de servir de base a uma gestão de
suas relações com uma exterioridade distinta. A nacionalidade política,
econômica ou científica foi construída segundo esse modelo estratégico”
CERTEAU, Michel de. A Invenção do
Cotidiano. Petrópolis: Vozes, 1990:46.
[11] “A estratégia é a utilização do recontro para atingir
a finalidade da guerra. (...) Ela tem pois de fixar uma finalidade para o
conjunto do ato de guerra que corresponda ao objetivo da guerra” (p.171). “O
recontro é a atividade de guerra propriamente dita (...). Recontro significa
combate, e o verdadeiro objetivo do combate consiste em aniquilar ou vencer o
adversário”. CLAUSEWITZ, Carl Von. Da
Guerra. São Paulo: Martins Fontes, 2003:257.
[12] Tensão e repouso – A lei dinâmica na guerra: “na
maioria das campanhas, o tempo de espera e de repouso é maior do que o de ação
(...) por pausas mais ou menos longas (...). Quando o ato de guerra pára, isto
é, quando nenhuma das duas partes quer qualquer coisa de positivo, produz-se um
repouso e, por conseqüência, um estado de equilíbrio. (...) Esta distinção
(...) entre equilíbrio, tensão e movimento tem para a ação prática uma
importância mais essencial do que à primeira vista possa parecer” CLAUSEWITZ,
Carl Von. Da Guerra. São Paulo:
Martins Fontes, 2003:248. A partir desta concepção de ‘tensão’ e ‘repouso’ de
Clawsewitz pode-se compreender uma ‘individuação sem sujeito’ ou hecceidade, acontecimento: latitudes
(relação diferencial de força, potência) e longitudes (velocidade e lentidão,
celeridade e repouso). DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. Mil Platôs:
Capitalismo e Esquizofrenia. São Paulo: 34, 1997.
[13] Durante as grandes guerras, talvez os mais recentes,
os ‘teatros de guerra’ que podem melhor ilustrar, através de mapas, são o Teatro
Ocidental (Nordeste e Mediterrâneo) de 1914 e o Teatro Ocidental em 1940. HART,
B. H. Liddell. As Grandes Guerras da
História (Strategy). São Paulo: Ibrasa, 1982.
[14] Entre “às sociedades de soberania cujo objetivo e
funções eram completamente diferentes (açambarcar, mais do que organizar a
produção, decidir sobre a morte mais di que gerir a vida” (p.219) e a arte,
afinal “a arte é o que resiste: ela resiste à morte, à servidão, à infâmia, à
vergonha (...). Quando um povo se cria, é por seus próprios meios, mas de
maneira a reencontrar algo da arte (...) ou de maneira que a arte reencontre o
que lhe faltava” (p.215). “(...) trata-se da constituição de modos de
existência, ou da invenção de possibilidades de vida que também dizem respeito
à morte (...). Trata-se de inventar modos de existência, segundo regras
facultativas, capazes de resistir ao poder bem como se furtar ao saber (...).
Mas os modos de existência ou possibilidades de vida não cessam de se recriar,
e surgem novos. (...) Trata-se antes de um campo elétrico ou magnético, uma
individuação operando por intensidades (tanto baixas como altas), campos
individuados e não pessoas ou identidades” (p.116-7).“É certo que entramos em
sociedades de ‘controle’, que já não são exatamente disciplinares. Foucault é
com frequência considerando como o pensador das sociedades de disciplina, e de
sua técnica principal, o confinamento (...). as sociedades disciplinares são
aquilo que estamos deixando para trás (...). sociedades de controle que
funcionam não mais por confinamento, mas por controle contínuo e comunicação
instantânea. (...) Num regime de controle nunca se termina nada. (...) A cada tipo
de sociedade, evidentemente, pode-se fazer corresponder um tipo de máquina: as
máquinas simples ou dinâmicas para sociedades de soberania, as máquinas
energéticas para as de disciplina, as cibernéticas e os computadores para as
sociedades de controle. (...) as sociedades de controle ou de comunicação não
suscitarão formas de resistência capazes de dar novas oportunidades a um
comunismo concebido como ‘organização transversal de indivíduos livres’ (...).
Talvez a fala, a comunicação, estejam apodrecidas. (...) É preciso um desvio da
fala. (...) O importante talvez venha a ser criar vacúolos de não-comunicação,
interruptores, para escapar ao controle. (...) ” (p215-7). DELEUZE, Gilles.
Conversações. São Paulo: 34, 1992.
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